Portugal: o que pode oferecer?
A República Portuguesa tem uma rela??o especial com a China. Em 1513, a chegada do navegador Jorge álvares aos portos chineses do sul do Império Chinês, abriu caminho para que em 1557 Portugal se estabelecesse em Macau, como recompensa pelos seus esfor?os na luta contra a pirataria regional. Essa presen?a manteve-se até 1999, ano em que foi feita a transferência de soberania deste território, para a China. Chegara o fim de uma era, mas que dava conta da forma como as rela??es sino-portuguesas, se desenvolveram de forma progressiva.
Os dois Estados estabeleceram rela??es diplomáticas em 1979 e abriram caminho para que em 1987 fosse assinada a Declara??o Conjunta Luso-Chinesa sobre a Quest?o de Macau. Podemos considerar que os primeiros 20 anos de contactos sino-portugueses foram dominados pela quest?o de Macau. De 1999 em diante, esta situa??o tem vindo a mudar progressivamente. é preciso relembrar que a crise económica portuguesa que dura há uma década, foi também uma oportunidade para os investimentos chineses. Neste período, Pequim investiu capital em empresas estratégicas portuguesas, como s?o os casos da REN e da EDP, e procurou fortalecer os seus la?os com Lisboa. De um ponto de vista estratégico, a China soube aproveitar um momento de menor fulgor económico da parte de Portugal, para entrar em for?a no mercado energético e dos seguros. Ao mesmo tempo, a política do “Visto Dourado”, promovida pelo governo português, permitiu que vários investidores chineses injetassem capital no país, em troca de um visto especial que lhes permite circular na UE.
A recente visita do primeiro-ministro António Costa, tendo sido recebido pelo presidente Xi e pelo primeiro-ministro Li Keqiang, serviu para refor?ar o papel que Portugal tem junto da China, sendo uma porta de entrada para a UE e como uma pe?a importante da iniciativa “Um Cintur?o e uma Rota”. O primeiro-ministro Li, declarou que a China pretende que estes la?os sejam parte integrante desta política e, da parte portuguesa, que incorporem a estratégia de desenvolvimento atual.
é preciso notar que Portugal é um ator com uma dimens?o maior do que as suas fronteiras o deixam transparecer e, tal é verificável a três níveis distintos. Em primeiro lugar, faz parte do Fórum para a Coopera??o Económica e Comercial com os Países de Língua Portuguesa de Macau (Fórum de Macau). Neste encontro, discutem-se as potenciais parcerias ao nível multilateral que podem ser estabelecidas entre a China e os outros membros do Fórum (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo?ambique, Portugal e Timor-Leste). Portugal serve como ponto de equilíbrio nestas rela??es gra?as ao seu passado histórico com todos estes Estados. Além disso, a RPC tem grande interesse nos países da CPLP. O elo comum n?o se resume apenas a Portugal, incluindo a língua portuguesa. Neste sentido, o governo português deverá ter um papel mais ativo no ensino do português na China, como forma de complementar o interesse económico chinês por estes atores.
Em segundo lugar, a capacidade diplomática portuguesa poderá ser uma mais-valia para Pequim. é preciso lembrar que os anos 60 foram terríveis para a diplomacia portuguesa, debaixo de fogo constante por causa das colónias em áfrica. Desde ent?o, muito mudou e Portugal é hoje visto como um país capaz de servir de ponte entre na??es divergentes. O seu papel na independência de Timor-Leste em 1999; no processo de transferência de Macau e na recente elei??o de António Guterres como novo secretário-geral das Uni?es Unidas, demonstram como Portugal ainda tem grande influência do ponto de vista externo. Tal será fundamental para que Pequim posso chegar a acordos, n?o só com o governo português, mas também com a própria Uni?o Europeia.
Finalmente, nos últimos anos a capacidade exportadora de Portugal tem sido o motor da economia portuguesa. Produtos como vinho, azeite, cal?ado, conservas e corti?a, s?o atrativos para a crescente classe média chinesa. Essa popularidade tenderá a crescer gra?as ao reconhecimento internacional destes bens, influenciando os gostos da popula??o chinesa. A integra??o de Portugal neste novo elemento da política externa de Pequim, tornará mais fácil esse escoamento de produtos e real?ará como as rela??es sino-portuguesas se baseiam no respeito e benefícios mútuos.
![]() | ![]() |